quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Padre António Vieira - Há 400 anos

"Eu, Portugal, (com quem só falo agora) nem espero o teu agradecimento, nem temo a tua ingratidão. Porque, se me não contas com Daniel entre os vivos, eu me conto com Samuel entre os mortos; se nas letras que interpreto achara desgraças (bem poderá ser que as tenhas), eu te dissera a má fortuna sem receio, assim como te digo a boa sem lisonja. Mas é tal a tua estrela (benignidade de Deus contigo deverá ser), que tudo o que leio de ti são grandezas, tudo que descubro melhoras, tudo o que alcanço felicidades. Isto é o que deves esperar, e isto o que te espera; por isso em nome segundo e mais declarado chamo a esta mesma escritura Esperanças de Portugal, e este é o comento breve de toda a História do Futuro.

Mas vejo que o mesmo nome de Esperanças de Portugal lhe poderá com razão suspender o gosto, assustar o desejo e embaraçar os mesmos alvoroços em que o tenho metido com estas esperanças: Spes qae differtur, affligit animam, disse a Verdade divina e o sabe e sente bem a experiência e paciência humana: ainda que seja muito segura, muito firme e muito bem fundada a esperança, é um tormento desesperado o esperar."

Padre António Vieira, História do Futuro, Tomo I, Capítulo II

“Todos nos cansamos em guardar Portugal dos Castelhanos, e devêramo-nos cansar mais em o guardar de nós. Guardemos o nosso Reino de nós, que nós somos os que lhe fazemos a maior guerra (…) “.
(do “Sermão pelo bom sucesso das nossas armas”, pregado em 1645)

“Sabiamente falou quem disse que a perfeição não consiste nos verbos, senão nos advérbios; não em que as nossas obras sejam honestas e boas, senão em que sejam bem feitas”.
(do “Sermão do primeiro domingo do Advento”, II, pregado em 1650)

Fernando Pessoa, na Mensagem (3.ª Parte, II, 2.º), chamou-lhe "Imperador da língua portuguesa":

“O céu 'strela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também”.


E Miguel Torga, em Poemas Ibéricos, definiu-o assim:


Filho peninsular e tropical

De Inácio de Loiola,

Aluno do Bandarra

E mestre

De Fernando Pessoa,

No Quinto Império que sonhou, sonhava

O homem lusitano

À medida do mundo.

E foi ele o pioneiro.

Original

No ser universal...

Misto de génio, mago e aventureiro.

Já no século XVII, Vieira esperava o V Império, e já nessa altura, esperar era "um tormento desesperado". Quatro séculos depois, continuamos, desesperados, à espera.

4 comentários:

Sofia K. disse...

Olha quem é ele... O MEU Padre! Sabes que aqui há uns três meses tive um caso com ele, daqueles de ir para a cama e tudo... andou comigo a todas as horas, apresentei-o a todas as minhas amigas, foi motivo de ciúme... escrevi-lhe e tudo, ouvi os seus sermões todos e citava-o a toda a hora... mas depois vi que aquilo não tinha pernas para andar e dei por encerrado o caso... Confesso que não tive muita pena, mas agora bateu-me a saudade!

beijinhos

MariaV disse...

Ai, Sofia, isso foi quase um caso sério!
Beijo

ana v. disse...

Olha, este blóguio virou irodito...

ana v. disse...

Vai lá ao meu estaminé, tens o teu primeiro desafio blogosférico.
bjs