segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Na era da alta tecnologia

Como se ainda precisassem de sofrer mais, as pessoas já fragilizadas pela doença que tiveram, têm ou temem venha a ser-lhes diagnosticada, têm que fazer exames dolorosíssimos. Muitas vezes, a dor é mais psicológica do que física, principalmente para quem pode pagar o luxo de uma anestesia, já que esta não é comparticipada.
Enquanto escrevo, a minha Mãe está a fazer um desses exames. O primeiro que fez, sem anestesia porque a informaram mal na altura, foi, segundo ela, “pior do que ter um filho”. Desta vez é com anestesia, graças a Deus. Disse-me há pouco o anestesista que ela não vai sentir nada e que está muito bem disposta e nada ansiosa.
Mas não é do exame propriamente dito que quero falar, mas sim da preparação que obriga os doentes a estar dois dias quase sem comer, e, no segundo, a beber quatro litros, sim, 4!, um garrafão de 5 litros menos um bocadinho, de um líquido asqueroso.
Hoje, tal como em Janeiro, a minha Mãe teve de começar às 7 da manhã nisto, um copo de 15 em 15 minutos. Quando me levantei, perto das oito, já ela estava enjoadíssima, com vómitos só de pensar no sabor daquilo. E a minha Mãe não é esquisitinha, nem niquenta, nem fiteira. É porque aquilo deve ser realmente horrível.
Aqui do hospital, disseram que se podia juntar umas gotas de limão e pôr no frigorífico, para disfarçar o sabor. A Mãe tentou, mas nem assim conseguiu tomar aquela porcaria até ao fim.
Será que os laboratórios, no século XXI, não podem pôr um sabor menos mau naquilo? Custa-me a acreditar. Temo que não seja por impossibilidade técnica que não o fazem. Talvez só falte aos cientistas, aos técnicos, pensar mais nas pessoas, imaginar-se no lugar delas, fazer o melhor possível, como se fosse para as suas mães, ou para os seus filhos, como se o fizessem para alguém a quem amam.

Agora, parece-me que o exame já acabou. Acho que vi o médico lá ao fundo a passar.
Resta-nos aguardar que o resultado, desta vez, não nos assuste. Os laboratórios parecem continuar a não se ralar. Mas, depois de tudo isto, depois da operação em Fevereiro, Deus vai achar, como nós, que a minha Mãe merece continuar sossegada.
- Ouviste? Por favor…

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A Mãe saiu a rir lá de dentro, com uma enfermeira amorosa, que nos “mandou” jantar. A seguir saiu o médico e confirmou: "Está tudo bem. Não há qualquer ameaça."
Tudo está bem quando acaba bem.

- Obrigada.

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(Este post foi escrito na passada 6ª feira, 18/9, e era para ter sido então publicado, mas fiquei sem internet depois de me ter armado em esperta, a tentar configurar o computador para uma rede wireless no hospital, que não cheguei a perceber se havia…)