domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sou fumadora, mas não gosto de beatas




Ontem fui a um casamento. Não é das coisas de que mais gosto, mas lá fui, depois de me ter empiriquitado q.b.. Nestas coisas, é suposto trocar a camisola de gola alta quentinha e os jeans com que a gente se sente bem por atavios mais apropriados. E lá pus um vestido com que, apesar de tudo, não me sinto mal de todo.
No meio da festa, chegou o momento de ficar de caras com uma daquelas pessoas que só nos falam bem em sítios igualmente “bem”, ou se nos virem acompanhados com pessoas muito recomendáveis ou muito benzocas. A estes já só cumprimento se me falarem primeiro. Já não faço fretes, pelo menos destes.
A pessoa de quem falo, e a quem chamarei X, é uma mulher praticamente da minha idade, que há vinte anos se veste, penteia e comporta como a sua própria mãe, avó, etc.
Desta vez a ocasião era propícia e falou-me. Com um meio sorriso, supostamente civilizado, mas sem nunca olhar para mim. Os seus olhos, reprovadores, estiveram desde que me viu, enterrados no meu decote (que até nem era nada demais), como se eu fosse a própria encarnação do pecado.


Há mais de vinte anos, estava eu a viver em Londres, a minha mãe telefonou-me a dizer que umas primas afastadas iam lá e me levavam umas coisas de que eu tinha saudades. Fui, como sempre andava, enchouriçada em camisolas, de calças e botas, anourak e cachecol, encontrar-me com elas numa sala de espera de um consultório, em plena Harley Street. A X era uma delas e fora a Londres, por lhe cair cabelo, para uma consulta com o dermatologista do príncipe de Gales! Estava de saltos altos e casaco beige, de pelo de camelo, e de colar de pérolas. Tal e qual como poderia estar se fosse da idade das nossas mães…

A X faz um ar bonzinho, e põe os olhos em riste, quando não está a olhar para outra coisa qualquer, como um decote. É daquelas pessoas que há muitos anos teve vergonha de mim, quando não aguentei um casamento horrível e assumi a separação. A X tem um marido nobre, muito feio e com uma cara daquelas que nos podem fazer lembrar galinhas ou chapas onduladas. São iguais… considerando que os títulos são dele o dinheiro dela… O facto de só terem um filho – que, obviamente, estuda num colégio da Opus Dei – só pode dever-se a uma de duas coisas: ou são tão estúpidos que ainda não perceberam que a “Obra” promove as famílias numerosas, ou vivem um casamento de fachada e sem sexo.

É por estas e por outras que eu não gosto de beatas. Fazem-me ficar completamente “encabrazinada”*.


*Nunca tinha ouvido esta palavra. Aprendi-a ontem com o M., e avisei-o que a ia adoptar. Além do mais, a expressão “p--- q—p----“ às vezes já não me alivia.

12 comentários:

Sofia K. disse...

Tu tens graça rapariga...

Também detesto beatas, mesmo quando era meia-beata de ir à missa todos os dias e de quase ir para freira... com padre à cabeceira, claro! Olha, não!

Adorei a do decote... sabes, eu sou um clássico a quem apontam o decote, quase sempre até ao umbigo... Mas eu gosto assim... Deixem chegar o verão que eles são ainda maiores...

E aqui aprendem-se muitas palavras novas... 'encabrazinada'? Não sei porquê tenho imensas ocasiões para a aplicar... LOL

beijinhos

ana v. disse...

Ah, leoa!
Também a vi por lá, e também me falou com o mesmo ar de reprovação (a mim tem ainda muito mais a reprovar do que um decote...) e também, como tu, tive pena dela. Porque parece nossa avó, de aspecto, e desde sempre. E porque chegar a casa todos os dias e dar de caras com aquele marido (marido? enfim...) é caso para lamentar-lhe a sorte. Mesmo com títulos e todo o dinheiro do mundo. Livra!
Beatas, nem já nos cinzeiros...

ana v. disse...

Esqueci-me de dizer qua a fotografia está o máximo. Decotes, mini-saias e armas, tudo igualmente perigoso... a patronagem sabe o que diz!

tcl disse...

a prova de que Deus existe e não anda distraído está neste teu post: tu, estás boa para usares um belo decote (adoro decotes), à X, cai-lhe o cabelo...

Maria Oliveira disse...

Texto objectivo, coerente e directo!
Uma crítica óbvia a certas camadas da sociedade!!
Gostei!!

Mad disse...

Eh lá!!! É o que dá viver no mato, sei lá quem é a X! Assim de repente, podem ser uma data delas que a gente conhece, eh eh eh! Bom, quarta contas-me.

Anónimo disse...

Rosa, amori... adorei o blog e fartei-me de rir!! Divertido e com comentários que só tu, Rosa, podias fazer. És mesmo muito fixe!!!

A menina escreve bem!!! Vai ser a minha mana mais velhota para sempre...

MariaV disse...

Filipa, minha mana mai'nova, sobrinha querida! Até que enfim, vejo-te aqui. Agora livra-te de desapareceres outra vez, senão nem sei o que faço.
Beijo

Unknown disse...

E não se pode dar um tiro na X? Nem que seja com uma arma de paint-ball, só para aliviar ...

Nota 1: Não percebo porque é que o post não vem com decote, é uma falha evitável Dra.

Nota 2: Estes textos estão cada vez melhor.

MariaV disse...

Pronto, os "gajos", fala-se em decotes... e é isto!
Bjs

ana v. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Rosa, queres saber a melhor? Deus castiga a má língua: adivinha quem ficou AO MEU LADO no jantar de dinossauros fadistas?... a X, mais o seu boneco do Bordalo Pinheiro em versão escanzelada!!!!! E, nem de propósito, o meu decote era pornográfico... tenho mais coisas para contar, mas não posso pôr aqui...

PS: Achei melhor este comentário ficar anónimo. Just in case...