
A propósito do último
post e das fotografias que escolhi para tentar sonhar a noite passada, começo por confessar que, se sonhei com São Tomé, não dei por nada. O truque não resultou, portanto. Hoje de manhã, tinha apenas mais um dia à minha espera.
Mas não posso deixar de aproveitar esta oportunidade para falar em São Tomé, que foi, até hoje, a viagem da minha vida. Sem sombra de dúvida.
Estive lá quinze dias, há seis anos.
Não vou esquecer nunca mais aquele calor molhado de humidade que nos assalta logo à saída do avião e que é diferente de qualquer outro lugar.
E a multidão no aeroporto, caras sorridentes e roupas coloridas, com "aquele" verde em pano de fundo. A chegada do avião semanal de Lisboa era na altura um verdadeiro acontecimento, que mobilizava famílias inteiras, mesmo sem esperar ninguém em especial.

O verde, duma intensidade invulgar. Que verde! As fotografias não são de todo justas, palavra de honra! Lá, é verde quase tudo o que não é areia das praias ou alcatrão - e o alcatrão era ainda pouco; pouco mais do que os portugueses lá haviam deixado, com as mazelas causadas pelo tempo.

E as praias, desertas, lindas!
As pessoas, fantásticas. Sorrisos lindos, e genuínos, generosos.
O meu amigo P., que me recebeu lá, como só ele, e me mostrou a ilha onde vivia há três anos como quem mostra a sua casa, dando-ma a descobrir no seu todo, com as coisas boas e as menos boas: as belezas naturais, os amigos, a pastelaria com "aqueles" bolos de côco inesquecíveis, o con-con, um peixe pré-histórico feíssimo que se come à mão porque tem de ser desmanchado como um puzzle, a matabala, que se come como batata frita às rodelas fininhas, mas não faz engordar, as 17 espécies de banana, a jaca, as mangas pequeninas e sumarentas de que a Manuela fazia um sumo óptimo que bebíamos nos nossos almoços saudáveis, acabadinhos de chegar da praia, as roças, os jantares, as conversas, a feijoada na praia, ao domingo, a barriga de peixe, as crianças que parecem nascer do chão por todo o lado e nos pedem "doce", sempre a sorrir, a alegria daquela gente apesar da pobreza, Monte Café e Bemposta, Santana, Ribeira Afonso, e tantos outros lugares mágicos.
Esta viagem deixou-me verdadeiramente apaixonada por aquela terra. Senti rapidamente que, de alguma maneira, pertenço ali. São Tomé é um dos poucos lugares em que alguma vez me senti verdadeiramente livre. Sei que, se pudesse, seria capaz de lá viver. E sentir-me-ia útil. E sentir-me-ia em casa.
Algures o ano passado, a Ana fez um
post curiosíssimo no "Porta do Vento" sobre São Tomé e o "Equador" do Miguel Sousa Tavares, que, na altura, suscitou o meu maior comentário até então (ainda andava só pelos
blogs das primas, e nunca me alongara tanto na
blogosfera).
Já nessa altura, a Mad perguntava-me "para quando o
blog?"
Só meio ano depois nasceu o "Vou pelo Sonho", que hoje me pôs outra vez a recordar São Tomé.